
“Porque é que a montagem é tão importante?
De facto, podemos causar um enorme impacto com um único plano contínuo (veja-se o início de “O Jogador”, por exemplo). Ligamos a câmara e gravamos algo com um único plano, publicamo-lo no YouTube e recebemos milhões de likes!
O que é interessante é que nada disto é novo! Foi exatamente assim que o cinema começou: com filmes de um único plano.
A ideia de poder editar filmes não ocorreu aos irmãos Lumière, nem mesmo a Edison. De certa forma, os primeiros anos do cinema são muito semelhantes à maioria das coisas que vemos atualmente no YouTube.
Para o cinema - de uma perspetiva puramente prática - a invenção da Montagem significa que já não estamos limitados pelo que podemos conseguir com um único plano, mas temos agora a possibilidade de contar qualquer história agregando planos num conjunto de combinações que são ilimitadas.
Mas há um outro aspeto da montagem que é estranho e até milagroso. Quando dois planos são justapostos, é o espetador que faz a ligação entre eles. O resultado desta ligação pode ser uma ideia completamente nova que não existe em nenhum dos dois planos quando vistos separadamente.
Quando se multiplica isso por dezenas, centenas ou milhares de cortes e justaposições, obtém-se uma interação fantástica entre o que está a acontecer no ecrã e o que está na mente do público.”
MURCH, Walter, coluna de correcções e esclarecimentos do Guardian, 2008
- Docente: Nelson Tondela